sexta-feira, 18 de setembro de 2015

AFROAMOR




no mesmo tom

na mesma pele
os mesmos corpos
(beijando-se)


na mesma cor
na mesma dor
os mesmos desejos
(enraizando-se)

no mesmo traço
no mesmo compasso
as mesmas verdades
(enlaçando-se)

no mesmo encrespado
no mesmo trançado
os mesmos diálogos
(afirmando-se)

no mesmo gingado
no mesmo swingado
as mesmas ancestralidades

(amando-se)


Alan Felix. Salvador-BA, 27.08.15

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Democracia Racial

catalogaram-me numa raça
deram cor a minha pele
alisaram meu cabelo
exterminaram meu passado


jogaram –me numa favela
marginalizaram meus sonhos
esquartejaram minha cidadania
venderam meus antepassados

silenciaram meu banzo
chamaram de Sta. Barbara minha Iansã
demonizaram minha fé
nomearam-me de José

perdi minha identidade.




Alan Felix.

domingo, 19 de julho de 2015

SABE MINHA PRETA



sabe minha preta,
teus olhos me prendem em redemoinhos,
em águas negras profundas,
em misteriosos enigmas de mulher.

teu signo de água
ascendem verdades astrais, 
rotas e contra-rotas de destinos.

os planetas se alinham em graus de querer.
nossos mundos se combinam
na carícia de escorpião em Vênus.
iluminamos a noite íntima
do quarto, da casa, dos corpos.


dois corpos celestes
vagando na imensidão
um do outro 
em galáxias desconexas de instintiva vontade.


a lua transmuta a água 
que jorra de você, 
na qual diluo o fogo solar que arde a boca
para melhor beijar a órbita do seu mundo.

me inundo em sua correntezas e certezas,
em moinhos que movem 
e que tritura nossa carne profana.




Alan Felix.

sábado, 2 de maio de 2015

DESDE DE MENINA


desde de menina escuto:
"nega do cabelo duro
que não gosta de pentear"
"passa um alisante
pra ficar legal"


vá se fuder parceiro,
duro é o extermínio de jovens negros,
a pobreza e a desigualdade social;
duro é não ser retratada no comercial
e aparecer apenas na página policial;
duro é a redução da maioridade penal.


duro são as marias
que morrem de aborto ilegal,
são violentadas pelo machismo patriarcal;
duro é a lei maria da penha
que não nos salva como empregada
das sinhá.


não aliso meu cabelo, 
muito menos meu discurso afirmativo,
afrocentrado,
encrespo minha voz
e armo meu cabelo,
pois nele centra meu poder black
o lado negro da força
da identidade não miscigenada.



Alan Felix. Cachoeira-BA, 14.04.15

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CARTA A BAUDELAIRE


Querido Baudelaire,

Hoje não me embriago de vinho, poesia e virtude. Hoje me embriago de vicio: nicotina e cafeína são isso que compõe minha escrita. As minhas virtudes se transformaram em imoralidades e há quem julgue meus atos. Hoje sou trabalhador, não tenho muito trocado para mulher e a minha arte. O dinheiro que sobra, eu compro cachaça e vinho barato. A poesia não se houve mais nas ruas e nas praças, existe outra palavra que não expressa nenhum lirismo. Outro dia quando recitei sobre as bucetas e as masturbações me encarceraram. Caro, Baudelaire hoje ninguém quer embriaga-se de poesia, virtude e vinho, querem outras drogas mais pesada para entorpecer os sentidos.


Alan Felix. Uruçuca-BA, 23/04/13.

domingo, 2 de junho de 2013

Nanã

p/ Diogo de Oliveira

da água que encarcera

a vida e a morte
nasce o lodo que fecunda
o ventre.

o útero enraizado
de sangue e lama
expele o barro e a chuva
que esculpe arte,
esculpe vida,
esculpe morte.

Alan Felix.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sobre o Amor e suas Epopeias #31


Gosto das canções que expressam uma sutileza real que corta fundo a carne do sentimento e expõe numa chaga as dores e os suspiros que enterramos nas entranhas e lá esquecemos. Gosto do timbrado da voz quase sussurrando a alma no vibrato que ecoam de labirintos desconhecidos que habitam o coração.



Alan Felix. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Precipitar


flui tua boca

no meu ventre
diplomando a natureza
do gozo.

Alan Felix.

Sobre a delicadeza do amor




“Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.”
                                                               Manuel Bandeira

embriago-me
não de álcool,

mas do cheiro do seu corpo.

ébrio
adormeço em você.

Alan Felix

sábado, 26 de janeiro de 2013

Sobre a Sexta em Salvador



Choveu saudade nas avenidas de Salvador, eu só quis dançar para não esquecer meu amor. Mesmo sem trio, sem percussão, meus pés molhados sambavam recordações dos carnavais, das lavagens, dos beijos em frente ao farol. Eu vou ficar no mesmo lugar, esperar a chuva passar, aguardar o sol aparecer por entre nuvens que insiste em contrariar, e quando o azul espelhar no mar, irei descansar a saudade nas pontas dos dedos nas águas do porto na barra.


Alan Felix.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Desejos Fogem das Mãos



a mão percorria solta
no campo de lírios do corpo
coroada deusa
no panteão obsceno.

entre suspiro,
alumbramento,
desvendava os mistérios do sexo
no toque-gozo.

os dedos escreviam
desejos,
arrepios,
gemidos,
calafrios.

poetou-se em
versos,
estrofes,
sonetos.

excitou-se
recitou-se

r-e(x)citou-se.



Alan Felix

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Drive



Na contramão
o choque
o acidente
de nossas línguas:
beijo.




Alan Felix.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre a quarta em Água Preta



E a lua cheia clareando a noite. A brisa desconhecida soprando levemente às folhas seca no chão do quintal. Meu coração estava inquieto pela saudade. Mesmo o esforço vão de centrar os pensamentos na televisão sintonizada no jogo de futebol. Distraído pensei nela. Angustiado com essas sensações emanadas do meu coração, busquei no livro, na praça, no boteco, algum sinal de esquecimento ou paz passageira. Apesar dos esforços, o que acalentou foi sentar no quintal, acender um cigarro e apreciar a lua na quarta-feira uruçuquense.

Alan Felix.

domingo, 28 de outubro de 2012

Carta Sem Destino...

Querida Elnora,


Que não seja dor!  EU TE AMO e isso basta, o que sinto exala o mais exitante perfume, Para com isso! Você não me perdeu, apenas desistiu de nós... você ainda me tem e me terás enquanto em mim houver essa coisa gostosa que me faz musicar a vida, escrever versos loucos... que me motiva, e nunca me deprime, nem me desespera. Mais uma vez você não me perdeu, você apenas fez a escolha que te foi conferida a ser a mais coesa com teu momento de vida! Você me tem e me terás sempre... sou seu homem, entenda isso! E relaxe, relaxe, porque o que é nosso, Tempo cuidará de nos dar, seja juntos ou separados. Sei que deves imaginar as possibilidade de que possa ser feliz com outra mulher... talvez teu desejo mais indesejado seja esse, de que eu siga em frente e vá viver outros prazeres, mas no coração a gente não manda! Então quero te de dizer que tenho que te compreender que essa foi sua escolha... mas, não a escolha da vida. Farei por você tudo que eu puder, para que tenhas uma carreira ainda mais brilhante, é meu dever, minha responsabilidade, cuidar da minha mulher, da mulher que eu amo, respeito e admiro muito!!! Do amor que com certeza virará um bela história para contar aos meus cativos; esse foi o ponto dado por você... não sei se parágrafo, seguimento ou final; não me interessa. Continuarei por aqui, respeitando suas decisões.

Ass.: Noah.
Alan Felix.

sábado, 6 de outubro de 2012

Sem Alvo


Quando rompo
a sutil pele
do corpo,
é porque alço voo
no acalanto,
no tecido alto
do sonho,
desponto calmo
o canto.
Aceno forte
a saudade,
e sereno
ensino arte
a madrugada,
sussurro segredo
ao muro.


Alan Felix.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Navegar


O meu corpo, o barco,
a deriva no teu mar.
Quero ser marinheiro
navegar nos mares,
nas curvas, no seu corpo.

De longe no horizonte
dos teus seios
a madrugada perdida
segue trilhando o vento.

Observo o sol
sangrando no mar
adormecendo
na contenda do anoitecer.

Navego no mar do teu corpo,
na precisão de viver
no silêncio das águas,
no naufrágio da tormenta
nos seus lábios.

Tanto porto – para partida,
Tanto marco – para descaso,
Tanto coração – sepultado.


Alan Felix. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sonata


Eu escavo o silêncio
no seu corpo,
e penetro os sons
que equalizam
no seu corpo
em forma incestuosa. 

Eram frequências
os ritmos
de nossos corpos,
ondulações delirantes
de você sobre mim,
e de mim sobre essa música.

Ah! Amor,
que melodia é dia
em você.
Qual sonata soa em nós?
Em qual cravo do seu corpo
teclo prazer?

Meu amor,
nas tonalidades distintas
do seu sexo,
adormece os tons
de ópera do seu gozo.

Alan Felix. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Borboletas no Estômago

Se borboletas voam no meu estômago.
É porque carrego um jardim.


Alan Felix. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Sobre o sábado em Água Preta


E a chuva desabrocha do céu lavando nossos sapatos. Apesar do vento gélido que corta as folhas na copa da árvore no inverno. Nós estamos prontos para o dia nublado que se abateu no sábado uruçuquense. O guarda-chuva apesar de pequeno nos protegia. Mas para caber naquele abrigo era preciso estar abraçado, e nós abraçamos, como o sol quente que rompe a cortina densa das nuvens.

Alan Felix.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não quero mais ser só


O prato predileto sobre a mesa e ninguém para dividir o sabor, o aroma, a conversa. Todos os dias são monólogos monótomos com a solidão. Acendo o cigarro cortinando com fumaça a companhia de ser só. A mesa de jantar com lugar para quatro pessoas: uma ocupada por mim, outra serve de cabide para toalha molhada, a segunda serve de descanso para os pés, e a última coloco o liquidificador. A televisão ligada, sintonizando algum canal para artifício do preenchimento do silêncio. O tédio de viver sozinho é ter que conviver com um silêncio horizontal que corta o basculante. Em transe vasculho as espirais da casa, deparo com janelas e escapatórias para outra vida. Debruço sobre a varanda espaireço na rotina do ar. Absorvo-me em ilusões, enceno diálogos, teatro sorrisos de paraíso, me colho nos sonhos de seus braços.

Alan Felix.